The Way of the Kings - The Stormlight Archives Book One, por Brandon Sanderson
Brandon Sanderson é um dos mais populares autores de Fantasia. Seu estilo é de leitura leve, com personagens carismáticos e fácil de compreender, e cenas de ação bem descritas .
Existem terríveis tempestades que assolam o mundo de maneira abrupta. Porém essas tempestades tem uma periodicidade prevísivel utilizando fórmulas matemáticas adquiridas a partir da observação do padrão dessas tempestades durante séculos. Bem, homens calculam essas probabilidades. O livro diz explicitamente que matemática não é considerado como algo feminino...Mas é impossível aprender matemática sem acesso a livros texto. Logo devemos mais uma vez acreditar que todo homem tem acesso a uma mulher em tempo integral por anos para ler a ele todos os textos necessários.
Ele possui estilo de escrita quase como se tivesse um olho em uma adaptação cinematográfica. Não é algo ruim por si só, porém o impede de explorar melhor construções pertinentes à arte escrita, como diálogos internos, e acaba caindo em clichês que já estão batidos até no cinema, como a famosa pose de herói ao cair de uma grande altura e frases de efeito em momentos de ação.
Apesar disso é possível perceber um esforço do autor em ter personagens que são coerentes com si mesmos, e com o mundo ao seu redor. Infelizmente ele nem sempre é bem sucedido.
Existem quatro personagens principais. Kaladin é bem construído, como um jovem que devido à escolhas ruins típicas de um adolescente, acaba caindo em um caminho de morte e destruição.
Os outros três... Ned Stark, quero dizer, Dalinar, é o típico paladino medieval. Bom patriarca, guerreiro exímio e seguidor de um código moral em um nível que beira o fanaticismo. Matou, à própria mão, milhares de indivíduos, porém isso não o impede de ser sensível com a família e amigos. Porém ao longo do livro o personagem vai ficando ligeramente mais interessante. Não se livra de seu imobilismo moral, porém ampia sua interpretação dogmática.
Shallan começa fraca e termina pior. Toda sua motivação é um plano infantil e improvisado. Sua personalidade é típica menina-rica com pouco a acrescentar sobre qualquer assunto. Seus diálogos são sofríveis, e denotam uma limitação intelectual do autor. Seus debates sobre ateísmo e política com membros da elite intelectual do cenário é repleto de argumentos primários e facilmente demontáveis. Porém Brando Sanderson, mesmo sendo um devoto Mormón, evita cair na armadilha de impor suas crenças ao leitor. Os dois lados do debate possuem argumentos risíveis e facilmente falsificáveis.
Não satisfeito, Shallan nos é apresentada como alguém de raciocínio rápido e uma lingua ferina. Mas a sua implementação é de uma menina que não perde a oportunidade de falar uma bobagem. Acrescenta pouco ou nada à conversas em que participa, além de irritar os seus participantes e, também, o leitor.
Szeth é um personagem curioso. Definitivamente não é um cliche como Shallan e Dalinar, sendo um assassino involuntário. Porém, pouco ou nada nos é dado para justificar o porque uma pessoa se tornaria um exímio assassino de centenas de pessoas, por décadas, involuntáriamente. É acenado um aspecto religioso: ele seria um membro de um religião que adora pedras. Mas pouco ou quase nada mais do que isso nos é dado. Visto que é o primeiro livro de uma série ainda não terminada, o autor provavelmente deseja elaborar em outros livros da série.
O que vejo como um dos principais defeitos desse livro: muito ambição para pouco conteúdo. Se alonga onde deveria ser breve, e demanda do leitor uma confiança que coisas sem sentido serão explicadas avante. Mas com 1200 páginas e apenas 4 personagens principais a história se arrasta. As relações interpessoais não são o foco desse livro, não são nem um acessório. Dalinar e Shallan, que se relacionam diariamente com reis e cortes de nobres, são avessos à política e ao romance. Seus relacionamentos familiares são bem estabelecidos e não evoluem durante as 1000 páginas. Seus relacionamentos amorosos são simples, e apesar de evoluir, o fazem de uma maneira previsível e linear. Como quase todo enredo do livro.
O autor não é um exímio wordbuilder como Tolkien ou mesmo Robert Jordan. Os cenário é simplesmente um pano de fundo para a história. Reinos genéricos com organizações politico-culturais e modo de produção pouco coerentes internamente são a ordem do livro.
Adentrando em detalhes: no cenário, os homens são todos analfabetos. Ler e Escrever são habilidades femininas. Porém o mundo é governado por homens. As mulheres tem um papel de maior relevo que em sua típica fantasia "medieval", porém ainda estão á sombra de homens. Como isso acontece se elas possuem o monopólio de todo o conhecimento histórico e técnico? Díficil suspender a descrença a ponto de engolir essa realidade. Por exemplo, o pai de Kaladin é um médico-cirurgião. Porém como não pode ler, sua esposa lê para ele em voz alta os livros necessários, mas ela não é médica. Logo, toda vez que um homem precisa estudar uma profissão técnica, uma mulher deve recitar o livro. Situação absurdamente impraticável para qualquer homem que não for rico o suficiente para contratar uma leitora em tempo integral, e cria a pergunta: porque as mulheres não se tornam elas mesmas as engenheiras, médicas e toda mão de obra especializada do mundo?
Existem terríveis tempestades que assolam o mundo de maneira abrupta. Porém essas tempestades tem uma periodicidade prevísivel utilizando fórmulas matemáticas adquiridas a partir da observação do padrão dessas tempestades durante séculos. Bem, homens calculam essas probabilidades. O livro diz explicitamente que matemática não é considerado como algo feminino...Mas é impossível aprender matemática sem acesso a livros texto. Logo devemos mais uma vez acreditar que todo homem tem acesso a uma mulher em tempo integral por anos para ler a ele todos os textos necessários.
E existem outras incongruências. Livros de fantasia com cenários incongruentes podem funcionar bem, como por exemplo a série Harry Potter, mas eles não podem se levar á serio, não podem ter um escopo tão ambicioso quanto esse livro tem, e principalmente, devem compensar com personagens cativantes e tramas interpessoais detalhadas e dinâmicas, o que não vemos nessa série.
Se você deseja ler um livro de fantasia leve e cheio de ação, sugiro a serie Mistborn do mesmo autor, em que ele evita grande parte das armadilhas acima. Se pretender uma série de fantasia ambiciosa e longa, recomendaria Malazan Book of the Fallen, The Black Company, Senhor dos Anéis(se você ainda não leu, leia imediatamente) e talvez, The Wheel of Time (finalizado pelo próprio Brandon) .
Recomendaria esse livro apenas para fãs apaixonados de Brandon Sanderson.
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